Máquina

Se por um lado me faltava ideias para postar nesse blog, hoje me vieram muitas e de pára-quedas!

Folheando as páginas de um livro didático de português que peguei da biblioteca do curso, encontrei muitos textos criativos, trechos de poemas de Carlos Drumond como "Eu Etiqueta", crônica de Luís Veríssimo, Moacyr Sciliar e Roseana Murray. Estampadas em páginas com designer 'super fashion' como daquelas revistas teens que vemos por aí, visual bem pop para um livro escolar de 6°série. Esse livro no qual estou falando se trata da "Coleção novo Diálogo" editora FTD ano, 2006.De cara me senti meio velha pegando esse livro, mas sem fazer desfeita há muito que tenho que aprender...

Algum desses trechos resolvi postar aqui, digitados por essa réles pessoinha que vós escreveis... =P

O que me encantou em cada uma delas foi pelas mensagens e "lições de moral", apresentadas com nenhuma linguagem muito arcaica e chata que nos dá sono de ler, muito pelo contrário, a linguagem simples e informal me fizeram identificar com os assuntos retratados e acontecimentos corriqueiros, que muitas vezes passam despercebidos por nós, mas que são pequenos pedacinhos de momentos da nossa vida que fazem toda a diferença.

Essa primeira fala sobre as máquinas de escrever... depois que li...putz!"E não é que é mesmo?!" – eu pensei...pois é.È isso que torna a graça da questão...até mesmo para pessoas sem gosto como eu...rss

Bom chega de monólogos, segue abaixo uma crônica da escritora Lúcia Carvalho:

 A máquina

Morreu uma tia minha. Ela morava sozinha, não tinha filhos. A família toda foi até lá, num final de semana, separar e dividir as coisas dela para esvaziar a casa. Móvel, roupa de cama, louça, quadro, livro, tudo espalhado pelo chão, uma tremenda confusão.

Foi quando ouvi meus filhos me chamarem.

-mãe!Maiê!!

-Faala.

Eles apareceram, esbaforidos.

-Mãe. A gente achou uma coisa incrìivel.Se ninguém quiser, essa coisa pode ficar para a gente?Hein?

-Depende. Que é?

Eles falavam juntos, animadíssimos.

-ÉÉ... Uma máquina mãe.

-È só uma máquina meio velha.

-È, mas funciona, está ótima!

Minha filha interrompeu o irmão mais novo, dando uma explicação melhor.

-Deixa que eu falo: é assim, é uma máquina, tipo um... Teclado de computador sabe só o teclado?Só o lugar que escreve?

-Sei.

-Então. Essa máquina tem assim tipo... Uma impressora, ligada nesse teclado, mas assim, ligado direto. Sem fio.Bem, a gente vai, digita, digita...

Ela ia se animando, os olhos brilhando.

-... e a máquina imprime direto na folha de papel que a gente coloca ali mesmo!È muuuito legal!Direto, ma mesma hora, eu juro!

Ela jurava?Fiquei muda. Eu é que jurava que não sabia o que falar diante dessa explicação de uma máquina de escrever, dada por uma menina de 12 anos. Ela nem aí comigo. Continuava.

-... Entendeu como é mãe?A gente, zupt, escreve e imprime, até dá para ver a impressão tipo na hora, e não precisa essa coisa chatérrima de entrar no computador, ligaaar, esperar hoooras, entrar no Word, de escrever olhando a tela, e sóóó depois mandar para a impressora, não tem esse monte de máquina tuuudo ligada uma na outra, não tem que ter até estabilizador, não precisa comprar cartucho caro, nada, nada, mãe!È muuuito legal. E nem precisa colocar na tomada!Funciona sem energia e escreve direito na folha da impressora.

-Nossa filha...

-... Ah, mas só tem duas coisas que são meio chatas: não dá para trocar a fonte e nem aumentar a letra, mas não tem problema não!Vem que a gente vai te mostrar. Vem...

Eu parei e olhei pasma, a máquina velha. Sensacional pensar assim. Eles davam pulinhos de alegria.

-Mãe. Será que alguém da família vai querer?Hein?Ah, a gente vai ficar torcendo, torcendo para ninguém querer, para a gente poder levar lá para casa, isso é o máximo!O máximo!

Bem, enquanto estou aqui escrevendo nesse meu antiquado "teclado", ouço de longe o plec-plec da tal máquina maravilhosa, que claro, ninguém da família quis, mas que aqui em casa já deu até briga. Está no meio da nossa sala de estar, em lugar nobre, rodeada de folhas e folhas de textos "impressos na hora" pelos meus filhos. Incrível, eles dizem plec-plec-plec.

Céus. Achei que tinha acabado, quando a minha filha vem de novo falar comigo, toda decidida e animada, com um texto recém-escrito (sem ligar nada na tomada) na mão.

-Mãe. Ajuda-me a fazer uma coisa muito legal que eu morro de vontade de fazer?

-O que é?

Ela deu um sorriso, com um ar sonhador.

-Ah, eu queria tanto colocar isso dentro de uma carta... No correio com envelope, selo colado... nunca fiz isso, mãe...ahhh, me ajuda?

E lembrar, que esses dias estou tendo problemas péssimos com os provedores de celular, e o PC quase que vai se a postagem, se não fossem os "save " do computador...já era tudo.Não tinha melhor hora, do que esta para falar de máquinas,que já estão perdendo espaço, mas que podem se revelar talvés mais eficientes que as do mundo moderno.