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quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

MORTE E VIDA SEVERINA



Hoje tive o prazer de apreciar a obra "Morte e vida Severina" do escritor modernísta João Cabral de Melo Neto.Obra que teve três versões,a 1° em 1956 (juntamente com outros poemas reunidos) Livraria José Olympio Editora,lançada no Rio de Janeiro.A 2° versão,Teatro Universidade Católica de São Paulo 1965,e enfim "Morte e vida Severina e outros poemas em voz alta" Rio de Janeiro,Editora do autor em 1966 (essa é a versão que li.)

Sobre o contexto da obra...

O poema é escrito em auto (em que a própria personagem descreve seus relatos e reflexões).
Severino é um retirante nordestino, que caminha até Recife em busca de uma vida melhor incluíndo um emprego que lhe servirá.Mas em seu caminho ele encontra muitos caboclos sendo enterrados,um foi assassinado provavelmente por jagunços, pau mandados de um latifundiário.O outro morreu da seca, faltou comida e água no seu serrado.Todos vítimas de uma "Vida Severina",onde injustamente esse povo acaba tendo o mesmo destino.
Assim como o autor descreve em algum dos trechos da obra "Congresso Polígono das  Secas":

"[...] Todos estes mortos parece 
que são irmãos,é o mesmo porte
Se não da mesma mãe,
irmãos da mesma morte[...]"

Não estou generalizando esse povo,que com suor das suas veias fazem enriquecer os malditos senhores de engenho.E me pego a indignar como pode ainda existir "período colonial" em pleno século XX ? Se a escravidão já foi abolida,onde está os "direitos humanos" para conseguir justiça aos trabalhadores da terra?Como na região Nordestina,em que ainda existem fazendeiros mandando matar agricultores e sindicalístas que vem ajudar.Tudo pra poder roubar um terreno,aumentar seus hectares,lucrando muitas vezes sem produzir.
Mas o camponês tem esperanças de uma vida melhor,talvés nem seja em "cidade grande" mas na sua própria terra dá pra plantar e cultivar amor junto com sua família e seu lar.
È isso que é mostrado no fim do poema,em que quando Severino vê o nascimento de uma criança brota uma esperança naquele sertão.

Veja o que o carpina que observava o parto,diz a Severino (que já estava desiludido com essa vida):

"[...]-Severino retirante,
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta 
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga.
É difícil defender,
só com palavras a vida,
ainda mais quando ela é 
esta que vê, severina;
mas se responder não pude 
á pergunta que fazia,
ela,a vida, a respondeu
com sua presença viva.

E não há melhor resposta 
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão,como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão 
de uma vida severina[...]"

O que falta nessa terra não é água,falta é "a vergonha na cara"das Autoridades em buscar nos nossos lençóis freáticos riqueza para esse povo.

O autor,nascido em Recife
 relata nas obras o que viu em sua terra



Na edição "Morte e vida Severina" de 1966,encontramos um outro poema muito bonito chamada "Os rios" .
Nessa obra, o autor descreve a vida dos retirantes que trabalham nas usinas de açúcar ou nas ferrovias.
O caminho que vai desde os portos do mar até as usinas das grandes metrópoles segue um percurso comparável com o caminho de um rio.
Pela visão de "João de Melo Neto" percebe-se que o retirante nordestino em especial,pode ir buscar a vida onde for, mas seja nas usinas ou nos antigos engenhos,não existe vida melhor do que morar nos litorais,próximo a sua própria natureza.Viver livre assim como os rios límpidos percorrem livremente.

Veja o trecho:

[...]Na vila da Usina
é que fui descobrir a gente
que as canas expulsaram
das ribanceiras e vazantes;
e que essa gente mesma
na boca da Usina são os dentes
que mastigam a cana
que a mastigou enquanto gente;
que mastigam a cana 
que a mastigou enquanto gente;[...]"

A descrição dos retirantes:


"[...]e entra essa gente triste,
a mais triste que já baixou,
a gente que a usina,
depois de mastigar largou[...]"

...O que as máquinas canavieiras fazem com os rios:

"[...]Com águas densas da terra
onde muitas usinas urinaram,
água densa da terra
e de muitas ilhas engravidara
Com substância de vida
é que os rios a vão aterrando,
com esses lixos da vida
que os rios viemos carreando[...]"



2 comentários:

  1. Ah, com certeza ainda existem muitas injustiças neste imenso Brasil. Como por exemplo, latifundiários tão poderosos como governantes oficiais, que mandam e desmandam ao bel prazer.

    Mas o que fazer? Só há duas opções.. Uma é tentar realizar uma revolução seguindo os princípios de Gandhi, enquanto que a outra seria tomar partido dos conceitos da revolução francesa. No entanto, ambas as opções trariam perdas e sofrimentos.

    Um professor meu já dizia: Não se faz uma revolução se não houver derramamento de sangue.

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  2. É isso ai Razor infelizmente a sociedade só resolve as coisas no "braço" se têm algum revolucionário que pensa no bem estar social acaba morrendo como herói antes da liberdade..

    Realmente pessoas como Gandhi estão em falta na nação.

    Obrigada pelo recado gostei!
    Volte sempre!^^

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